Reabertura das áreas comuns – Covid19

17 de junho de 2020 /

Reabertura das áreas comuns – Covid19

Em São Paulo continuamos em quarentena por conta do Covid19 e à cada dia que passa temos novas notícias e informações relacionadas à doença. Muitas coisas têm impactado nossa vida e rotina de forma individual, outras têm afetado os condomínios de forma sem precedentes, levando à questionamentos diários sobre como lidar com todas as demandas do momento e se conseguiremos dar conta do que está sendo exigido.

Exercer o cargo de síndico, no cenário atual, tem sido um desafio gigantesco e, na minha experiência, está sendo bem mais desafiador que a crise hídrica que enfrentamos em meados de 2015, por exemplo. Embora sejam coisas distintas, pensemos pelo lado do desafio daquela situação que era simplesmente não ter água! E os momentos em que tínhamos, exigia constante planejamento, administração, comunicação, conscientização e paciência!

Enfim, na situação atual de Covid, já passamos por diversos desafios e novos surgem a cada momento, já passamos pela fase do medo e pânico inicial, da tentativa de conscientização, da falta de paciência de estar isolado em casa, da febre das lives, das constantes reclamações de barulho e tantos outros que só estando no dia a dia para saber!

Agora, nós síndicos estamos sentindo o drama da fase de flexibilização e reabertura das áreas comuns. Ainda que já estejamos há 3 meses nessa situação, tudo está incerto, traz a preocupação de uma nova onda de contaminação e aumento de casos de infectados pela doença (como reflexo das medidas adotadas pelo governo de São Paulo, que está concedendo algumas flexibilizações), alguns condomínios começam a discutir também sobre flexibilizações.

Independente do condomínio optar por reabrir áreas ou não, no contexto de pandemia, gostaria de chamar à reflexão um ponto que tem sido muito discutido por síndicos e moradores, que é o reflexo das decisões e opiniões de pessoas externas (políticos, principalmente) a respeito de questões condominiais.

Tivemos recentemente a divulgação do veto do presidente, de trechos de um projeto de lei que dava autonomia aos síndicos para decidir a respeito da restrição de acesso e utilização das áreas comuns. Tal divulgação gerou muitas discussões sobre o assunto: de um lado, síndicos preocupados em como conciliar as medidas de proteção contra a disseminação da doença no condomínio, com o risco de processo judicial por conta de sua decisão, a falta de colaboração e bom senso de moradores que não conseguem cumprir o mínimo que se exige para uma convivência em comunidade e o medo da responsabilização pelos resultados da negligência das pessoas. E de outro lado, moradores divididos entre a liberação e restrição da utilização, onde pudemos ver muitas pessoas revelando sua falta de capacidade de viver em comunidade e declarando publicamente em redes sociais que os síndicos não poderiam ter o poder de fechar as áreas sob ameaça não só de processo, mas de agressão física! O absurdo foi tanto que até confissão de morador que por discordar do síndico em algum momento, chegou a declarar publicamente que quebrou dentes de um síndico!

Independente das áreas comuns serem liberadas ou não neste momento, uma coisa é certa, o simples assunto sobre uma possível reabertura gerou uma grande reflexão nos síndicos sobre o que realmente se espera, tanto do condomínio para com ele, quanto dele para com ele mesmo, pois ele é a figura que, de fato, responde civil e criminalmente pelo condomínio.

As perguntas que não saem da nossa cabeça enquanto representantes legais são: E se abrirmos e houver um surto no condomínio? E se não abrirmos, seremos vítimas de violência? Afinal até que ponto podemos ou não ser acusados e responsabilizados?

As respostas para tantas perguntas permanecem inexistentes. E cremos que ainda permanecerão por um bom tempo. O fato é que o condomínio precisa do síndico, precisa do seu representante e neste momento de impasse, medos e incertezas, só resta a nós, síndicos, sermos fortes, resilientes e atendermos nosso chamado, que é representar, pensar e agir de forma a dar nosso melhor para preservar a vida de todos que estão sob nossa responsabilidade.


Joyce Fernandes

Síndica Profissional desde 2015 – Formada pela Assosindicos 
Apaixonada por desafios e autoconhecimento
“Dispenso o que não me desafia e não me faz crescer.”

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